As
consequências da iniciação esportiva precoce
Atualmente, não é raro encontrar crianças e adolescentes
sendo submetidos a treinamentos intensos e desaconselháveis para suas idades
(TSUKAMOTO; NUNOMURO, 2003). Segundo os autores, isto ocorre porque existe uma
crença de que se iniciados precocemente no esporte os resultados aparecerão
mais rapidamente. Essa iniciação esportiva, tradicionalmente é conhecida como o
período no qual a criança e\ou adolescente começa a aprender, de forma
específica, a prática de um ou vários esportes (RAMOS; NEVES, 2008). Para Kunz
(1994) essa iniciação esportiva se torna precoce quando as crianças são introduzidas antes da fase
pubertária a um treinamento planejado e organizado a longo prazo.
Esse tipo de treinamento pode gerar uma série de consequências.
Negrão (1984) relata que a iniciação precoce pode ocorrer no sentido contrário
ao das necessidades (biológicas, motoras, sociais e psicológicas) das crianças,
podendo levar ao abandono precoce da prática. Para Tsukamoto e Nunomuro (2003)
o esporte de auto nível na infância e adolescência pode trazer prejuízos de
natureza psicológica e de desenvolvimento social. Os autores ainda relatam que
os treinamentos intensos para alcançar o alto nível, pode acarretar alterações
no processo maturacional. Segundo Gallahue e Ozmun (1998) esta maturação
caracteriza-se como a busca pela estabilidade através de mudanças qualitativas
que se processam em dois contextos distintos: o biológico e o comportamental.
A iniciação esportiva, mesmo que precoce, pode trazer
também benefícios para o praticante, porém para que isso aconteça é necessário
levar em consideração a fase de desenvolvimento do iniciante, pois se deve
respeitar a necessidade de experiências para a maturação somática e ainda tomar
cuidado com traumas e\ou impactos longitudinais nos membros da criança que está
em crescimento (RAMOS; NEVES, 2008). Para a Féderation Internationale de
Médicine Sportive (1997), a experiência no esporte contribui para o
desenvolvimento físico, emocional e intelectual dos praticantes, além de
estimular a auto-confiança e o comportamento social esperado pela sociedade.
Podemos considerar como abusivo o fato de submeter
crianças, que se encontram em um período sensível, às condições estressantes de
um treinamento esportivo e de competições organizadas por adultos (MARQUES;
OLIVEIRA, 2002). Infelizmente, esse tipo de procedimento ainda é comum, e assim
continuará sendo enquanto muitos técnicos e pais insistirem em tornar crianças
miniaturas de atletas (SOBRAL, 1993).
Referências
TSUKAMOTO, M.H.C.; NUNOMURO,
M. Aspectos maturacionais em atletas de ginástica olímpica do sexo feminino. Motriz, v.9, n.2, p.119-126, ago 2003.
RAMOS, A.M.; NEVES, R.L.R. A
iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade
– notas introdutórias. Pensar a Prática,
v.11, n.1, p.1-8, jul 2008.
KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do
esporte. Ijuí: Unijuí, 1994
NEGRAO, C. E. Os
mini-campeões. Medicina & Esporte.
Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 27-31, 1984.
GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Understanding Motor Development: infants,
children, adolescents, and adults. Indianapolis: Benchmark Press, 1998.
FÈDERATION INTERNATIONALE DE
MÉDICINE SPORTIVE. Treinamento físico em crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Medicina Esportiva, São
Paulo, v. 3 n. 4, p. 122-124, 1997.
MARQUES, A.T.; OLIVEIRA, J.
Esporte e atividade física: interação entre rendimento e saúde. In: BARBANTI,
V.J.; AMADIO, A.C.; BENTO, J.O.; MARQUES, A.T. O treino e a competição dos mais
novos: rendimento X saúde. Barueri: Manole, 2002. p. 51 –78.
SOBRAL, F. O estado de
prontidão desportiva – uma questão crucial do desporto infanto–juvenil. Revista Horizonte, Lisboa, v. 10, n.
58, p. 133-137, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário