sexta-feira, 23 de outubro de 2015

As consequências da iniciação esportiva precoce

            Atualmente, não é raro encontrar crianças e adolescentes sendo submetidos a treinamentos intensos e desaconselháveis para suas idades (TSUKAMOTO; NUNOMURO, 2003). Segundo os autores, isto ocorre porque existe uma crença de que se iniciados precocemente no esporte os resultados aparecerão mais rapidamente. Essa iniciação esportiva, tradicionalmente é conhecida como o período no qual a criança e\ou adolescente começa a aprender, de forma específica, a prática de um ou vários esportes (RAMOS; NEVES, 2008). Para Kunz (1994) essa iniciação esportiva se torna precoce quando  as crianças são introduzidas antes da fase pubertária a um treinamento planejado e organizado a longo prazo.
            Esse tipo de treinamento pode gerar uma série de consequências. Negrão (1984) relata que a iniciação precoce pode ocorrer no sentido contrário ao das necessidades (biológicas, motoras, sociais e psicológicas) das crianças, podendo levar ao abandono precoce da prática. Para Tsukamoto e Nunomuro (2003) o esporte de auto nível na infância e adolescência pode trazer prejuízos de natureza psicológica e de desenvolvimento social. Os autores ainda relatam que os treinamentos intensos para alcançar o alto nível, pode acarretar alterações no processo maturacional. Segundo Gallahue e Ozmun (1998) esta maturação caracteriza-se como a busca pela estabilidade através de mudanças qualitativas que se processam em dois contextos distintos: o biológico e o comportamental.
            A iniciação esportiva, mesmo que precoce, pode trazer também benefícios para o praticante, porém para que isso aconteça é necessário levar em consideração a fase de desenvolvimento do iniciante, pois se deve respeitar a necessidade de experiências para a maturação somática e ainda tomar cuidado com traumas e\ou impactos longitudinais nos membros da criança que está em crescimento (RAMOS; NEVES, 2008). Para a Féderation Internationale de Médicine Sportive (1997), a experiência no esporte contribui para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual dos praticantes, além de estimular a auto-confiança e o comportamento social esperado pela sociedade.  
            Podemos considerar como abusivo o fato de submeter crianças, que se encontram em um período sensível, às condições estressantes de um treinamento esportivo e de competições organizadas por adultos (MARQUES; OLIVEIRA, 2002). Infelizmente, esse tipo de procedimento ainda é comum, e assim continuará sendo enquanto muitos técnicos e pais insistirem em tornar crianças miniaturas de atletas (SOBRAL, 1993).



Referências

TSUKAMOTO, M.H.C.; NUNOMURO, M. Aspectos maturacionais em atletas de ginástica olímpica do sexo feminino. Motriz, v.9, n.2, p.119-126, ago 2003.

RAMOS, A.M.; NEVES, R.L.R. A iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade – notas introdutórias. Pensar a Prática, v.11, n.1, p.1-8, jul 2008.

KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994

NEGRAO, C. E. Os mini-campeões. Medicina & Esporte. Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 27-31, 1984.

GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Understanding Motor Development: infants, children, adolescents, and adults. Indianapolis: Benchmark Press, 1998.

FÈDERATION INTERNATIONALE DE MÉDICINE SPORTIVE. Treinamento físico em crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Medicina Esportiva, São Paulo, v. 3 n. 4, p. 122-124, 1997.

MARQUES, A.T.; OLIVEIRA, J. Esporte e atividade física: interação entre rendimento e saúde. In: BARBANTI, V.J.; AMADIO, A.C.; BENTO, J.O.; MARQUES, A.T. O treino e a competição dos mais novos: rendimento X saúde. Barueri: Manole, 2002. p. 51 –78.

SOBRAL, F. O estado de prontidão desportiva – uma questão crucial do desporto infanto–juvenil. Revista Horizonte, Lisboa, v. 10, n. 58, p. 133-137, 1993.


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